No alto de uma colina esturricada pela seca no município de Senador Pompeu, sertão do Ceará, as ruínas de uma antiga vila operária escondem um pedaço da História do Brasil que poucos cearenses gostam de contar. Erguidos em 1919 para abrigar operários e engenheiros ingleses que construiriam ali um açude de grande porte, os casarões tornaram-se palco de doença e morte. Durante a impiedosa seca que assolou a região em 1932, a Vila dos Ingleses sediou um campo de concentração para o confinamento de flagelados. O gueto era vigiado por soldados, como em uma guerra. O objetivo era isolar os retirantes e evitar a invasão das grandes cidades pela miséria e por epidemias. A morte era rotina nos chamados "currais da fome", criados pelo governo de Getúlio Vargas sob o disfarce de obra social para distribuir alimento. Ao todo, em 1932, construíram-se sete quartéis no Ceará e no Piauí, para onde foram levados 70 mil flagelados. A Vila dos Ingleses, em Senador Pompeu, era o maior deles - das 17 mil pessoas que passaram por lá, pelo menos mil morreram de fome e doenças. Sob o sol escaldante e sem nenhuma água, milhares de famintos com cabeça raspada, para evitar piolhos, eram obrigados a descarregar o alimento enviado de trem pelo governo. A maior parte chegava estragada, como testemunharam Guilherme Sabino e Maria de Jesus, e os melhores cortes de carne iam para a cozinha dos militares. Para os retirantes, sobravam somente o sangue, o coração e os bofes dos bois. A sopa era preparada com mato e goma (amido de mandioca). As crianças comiam rapadura e morriam de diarréia. O feijão era tão duro e ruim que ganhou o apelido de Zé Félix, nome do mais truculento guarda do campo de concentração. À noite, luzes de holofotes vigiavam as vias de acesso e o comportamento dos "prisioneiros", amontoados em barracos feitos com gravetos secos e estopas cortadas dos sacos de comida. "Alguns guardas deixavam namorar num quartinho escuro, o mesmo usado para açoitar os desobedientes", lembra Maria Perpétua Vieira, de 75 anos. Seu avô era coveiro e guarda do cemitério. Os doentes não podiam sair do gueto. Rezas, choros e lamúrias cortavam a madrugada, denunciando o desespero dos famintos. Muitos morriam, cerca de 20 por dia, e os cadáveres eram enterrados às pressas em valas para evitar o ataque de cachorros e urubus. Matéria pesquisada em alguns periódicos e revista de cunho cientifico Nacional. Estas e outras no diário de noticias de Célio Cavalcante, membro do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Arqueologia-CBA e Correspondente da Sociedade Paraibana de Arqueologia-SPA. Fonte completa no site abaixo:
http://epoca.globo.com/edic/20000103/seca.htm
http://epoca.globo.com/edic/20000103/seca.htm
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