quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

OS REGISTROS NO SÉCULO XVII DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS PELO PADRE FRANCISCO TELES DE MENEZES

Quando o homem civilizado foi adentrando o interior do território brasileiro, foi encontrando os primeiros registros rupestres. Este fato chamou-lhe a atenção. E, mesmo perguntando aos indígenas da época, não encontrou respostas para suas observações e, de certa forma, influenciado pelas narrativas nativas, passou também a relacionar esses registros ao misticismo. No século XVII, o padre Francisco Teles de Menezes registrou 274 sítios arqueológicos com gravações e pinturas no Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco, interpretando-os como mapas de tesouros. Por outro lado, vários escritores antigos citaram as gravuras e pinturas existentes ao longo do territó­rio brasileiro como sendo tes­temunho de passadas civilizações, deixando claro que aqueles registros rupestres não foram produzidos pelos indígenas encontrados pelo elemento lusos descobridor, no século XVI. Nessa mesma linha de pensamento, a professora Ruth Trindade de Almeida afirma que “as gravuras e pinturas brasileiras e, em particular, as pa­raibanas, foram executadas pelos antigos habitantes da região - os indígenas - o que não quer dizer que tenham sido executados, obrigatoriamente, pela população que os portugueses encontraram no Brasil no século XVI. Podem ter sido obra de grupos indígenas extintos ou que não mais habitavam o local à época do descobrimento”. Através das gravuras e das pinturas, os primitivos habitantes do Nordeste brasileiro deixaram as marcas de sua presença, como meio de mostrar os vestígios de seu cotidiano. Esses vestígios constituem “parte do sistema de comunicação do qual se preservavam apenas as expressões gráficas que resistiram ao tempo”. O padre Francisco Teles Correia de Menezes legou-nos um pequeno trabalho intitulado LAMENTAÇÃO BRASÍLICA em que registrou as suas observações sobre as inscrições lapidares ou letreiros em pedras,Isto não obstante o tempo já decorrido de cerca de 30 qüinqüênios. No mesmo artigo Pompeu Sobrinho informa que os principais centros de inscrições rupestres são: o planalto dos Inhamuns, a serra da Ibiapaba, a bacia do Banabuiú e o médio Jaguaribe, também no Estado do Ceará. Quanto à temática, uma coisa, entretanto, chama atenção nos registros de nossa produção indígena: raros são os gravados ou pinturas antropomorfos. A quase totalidade dos desenhos anotados por Pompeu Sobrinho e outros estudiosos, é de caráter abstrato-geométrico. São simples esquemas gráficos ou símbolos de tradução desconhecida. Valendo ressaltar que nas produções encontradas na serra da Ibiapaba a mão humana está bastante presente. Estrigas, no seu livro Artes Plásticas no Ceará, apesar de citar o livro Inscrições e Tradições da América Pré-histórica, de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, que informa a existência de algumas pinturas de caráter figurativo em aproximadamente uma dezena de locais, é taxativo ao dizer que: A pintura mais valiosa de nossa arte primitiva, até agora conhecida, encontra-se em Itapipoca, numa gruta, na face de uma pedra, chamada lá de “Pedra Ferrada”, na subida da serra. Nessa gruta, pintados em contorno, com um vermelho alaranjado, encontramos dois pássaros, um quadrúpede, doze figuras humanas e, outras indistintas. Parecem pertencer a mesma época, e se desenvolvem dentro da mesma concepção. Dessas doze figuras humanas destacamos, como de maior expressão dramática, uma, em posição vertical, com as pernas afastadas e os braços estendidos horizontalmente, num gesto misterioso. Duas outras figuras humanas estão em postura de dança com flexão de braços e pernas e sensibilizam pela beleza formal. Das figuras zoomorfas os pássaros destacam-se, de frente, com as asas abertas, e parecem estar, sutilmente, alçando vôo ou acabando de pousar. Expressivo, também, é o quadrúpede, possivelmente um cervídeo, que se posiciona de lado, no comprido do corpo, e, apesar de sua imobilidade, deixa transparecer uma atitude alerta, pronto para a fuga em caso de perigo. Quanto aos gravados e pinturas de caráter abstrato ou geométrico, o seu significado ainda é uma incógnita. Segundo Escrigas, apesar de parecerem sinais alfabéticos, ideogramas, eles encerram, em sua execução, uma porcentagem de aplicação artística”. Se são sinais comunicativos ou arte, não se sabe. O certo é que essas pinturas permitem várias leituras. Podem ser traduzidas como representações mágico-artísticas de formas dos reinos vegetal e animal, ou como simples registro de formas decorativas com fins puramente estético, ou ainda como representações simbólicas da paisagem. Sobre a possibilidade de interpretação destas manifestações artísticas, Ruth Trindade de Almeida, afirma com bastante propriedade, em a Arte Rupestre nos Cariris Velhos, que a formulação de hipóteses interpretativas exige um conhecimento seguro e minucioso da realidade. Somente após a análise do conteúdo e contexto de cada sítio, do delineamento dos estilos e de informações de natureza cronológica, pode-se pensar, com alguma segurança, em formular hipóteses interpretativas. Talvez no futuro tenhamos mais elementos para compreendê-las. No Brasil, algumas interpretações foram tentadas, mas todas baseadas em visões parciais do problema, a partir de material recolhido no passado, sem conhecimento de uma metodologia rigorosa, tal como recomendam os especialistas atuais. Como não temos notícias da realização, no Ceará, de mapeamentos precisos dos sítios existentes, nem levantamentos suficientes que permitam comparações estilísticas e temáticas, nem estudos que possibilitem comparações com a produção artística indígena de outras regiões do Brasil, nem uma datação rigorosa destas manifestações, qualquer tipo de análise interpretativa ou mesmo o estabelecimento de qualquer hipótese sobre a nossa arte rupestre evidenciaria uma atitude prematura. Estas e outras no diário de notícia do Pesquisador da Pré-história Célio Cavalcante membro do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Arqueologia - CBA e Correspondente da Sociedade Paraibana de Arqueologia-SPA.  

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