Um
desembargador, meu amigo, falou-me do exemplo deixado por Alexandre, o Grande.
Este grande gênio militar, antes de morrer, chamou um de seus generais e
ordenou, dizendo: “Quando eu morrer quero que os melhores médicos da corte
carreguem o meu caixão; e que todo o meu tesouro seja espalhado pelo caminho
que vai da minha casa ao local do sepulcro; exijo, ainda, que um de meus braços
fique pendurado pra fora do caixão!” O general, então, jurou que cumpriria o
que estava sendo determinado por Alexandre. Contudo, movido pela curiosidade, o
oficial do Rei perguntou: “Meu Rei, diga-me por que é que quereis ser sepultado
desta forma?” O monarca respondeu: “Quero que os melhores médicos carreguem o
caixão, para que saibam que contra a morte não tem jeito; o tesouro espalhado
pelo caminho até a sepultura é para mostrar, que quando partimos desta vida,
não levamos conosco nenhum bem material; quanto ao braço pendurado fora do
caixão, é para mostrar o tesouro e, também, para deixar claro que viemos do pó
e ao pó retornaremos, sem nada levar”. Esse ensinamento dissipou toda a dúvida
que paira sobre aqueles que pensam que, bens materiais se sobreponham sobre a
amizade e o amor ao próximo. Sobretudo, essa lição se renova quando nos
deparamos, todos os anos, com a prática do natal mercantilista, no qual as
comemorações se resumem na troca de presentes. Após a permuta tem início as avaliações dos
“presentes”, nas quais as partes envolvidas no “negócio” verificam se lucraram
ou se sofreram prejuízo. O natal deve ser comemorado, na verdade, celebrando-se
a amizade e o amor pelos nossos entes queridos e dos nossos amigos. A festa
natalina é precedida pelo advento vivido em torno do nascimento de Jesus, rosto
humano de Deus, o qual tomado de tanto amor, o amor na forma de Ágape, o amor
que devora, deu a vida pela humanidade. Quando chega a época do natal, minhas
lembranças felizes do meu tempo de menino povoam com mais frequência a minha
memória, causando em mim, um momento de grande saudade. Sou feliz e orgulhoso
por ter vivido uma infância, cercado por pessoas tão queridas e de corações tão
fraternos. Sou invadido pelas lembranças dos natais felizes do tempo de menino.
Por alguns instantes, em minha mente, volto a reviver momentos daquele tempo,
de natais inesquecíveis. Naquele tempo, as crianças ficavam em estado de graça,
aguardando a vinda do Papai Noel. As mães aconselhavam seus filhos a irem mais
cedo pra cama, sob pena de ficarem sem seus presentes, eis que o Bom Velhinho
só os entregava a crianças que estivessem dormindo. Foi numa noite de natal
nesses moldes, cumulada com uma festa dançante para os adultos no Clube União
dos Artistas Forquilhenses – que o mais incrível do meu natal de menino
aconteceu. Após ter seguido as orientações de minha mãe, temeroso em ficar sem
presente, fui dormir mais cedo. Pela madrugada, senti mãos grandes de meu pai
segurando meu braço, numa difícil tarefa de colocar um reloginho de brinquedo.
Acordei, mas fingi que continuava dormindo, pois sei que ele sabia que eu
acreditava no Papai Noel, e eu não queria decepcioná-lo. Percebo com mais
clareza, que apesar da pobreza que cercava a nós e a nossos pares, éramos muito
felizes, porque vivíamos na união e no amor dos nossos pais, dos nossos irmãos
e dos nossos queridíssimos vizinhos. Hoje é Natal e eu encontro-me na mesma
casa da minha infância, a inesquecível casa dos meus pais e dos meus irmãos.
Foi nesse clima que busquei inspiração nesta extraordinária noite para tentar
transmitir para o papel todas as lembranças que vivi na minha infância, rodeado
por meus familiares e amigos que considero como se meus parentes fossem. Minhas
observações começaram com as mudanças sentidas pela falta de importantes
personagens que, juntas, atuaram na construção e na vida a Rua São Francisco.
Olho para as casas dos antigos vizinhos e percebo que estas encontram-se
totalmente modificadas, para a minha decepção. Olho ao longo da nova São
Francisco e percebo a nova realidade trazida com arquiteturas diferenciadas, as
quais desafiam os fios elétricos de alta tensão dos postes erguidos pela
COELCE. Além disso, as agressivas construções descaracterizaram algumas casas
de pessoas muito queridas, contribuindo para o esquecimento desses imóveis que
retratavam a rua com o nome do nosso Padroeiro. Onde antes existia a casa
simples e saudosa do seu Moacir, foi erguido um duplex totalmente diferente,
sem falar na mudança dos seus antigos habitantes para outro bairro. O mesmo
aconteceu com a casa do seu Miguel Boleiro, do João Pifânio, do seu Calazans,
do Torzinho e da Dona Alcídia. A mudança mais significativa aconteceu após a
morte do querido e saudoso casal Izídio Sarambé e dona Júlia, pois com os
óbitos dos dois e com a ida dos filhos para outros estados da federação, a casa
ficou desabitada. Em vida, o mencionado casal e seus filhos, recebiam a seus
amigos para conversarem sobre o tempo e para tomarem um deliciosa café feito
pela dona Júlia, com grande alegria. Olhar pra casa fechada, sem seus antigos
moradores causa tristeza. Felizmente,
ainda continuam na nova Rua São Francisco, o Guardião da Arqueologia Cearense,
o bondoso e incansável comunicador, o grande amigo do povo forquilhense,
Antonio Célio Mendes Cavalcante. Curiosamente, este comunicador defensor de
suas origens, aborda em seu programa Forquilha Ontem, Hoje e Sempre, por ironia
do destino, relembra o passado de nosso povo. Tive a o prazer de reencontrar a
incansável religiosa Aldenora e seus filhos Luciano e Cristiano, e sua irmã
Leleu. Mesmo assim, não poderia esquecer dos saudosos Zé Soares e Carminha
Soares. A mudança que mais causou tristeza foi a que ocorreu na casa dos meus
pais. Casa esta que para mim, representa como sendo a minha nau capitânia.
Antes comandada pelo meu heroico capitão Elias Lopes de Araújo e sua suboficial
Maria do Carmo. Esses comandantes conduziam os mais de 12 marujos rumo a um
porto seguro. Formado guerreiro, fui ao Rio de Janeiro, lugar no qual luto pela
vida, vencendo a todos os obstáculos. Venço graças a Deus, em primeiro lugar, e
aos ensinamentos adquiridos durante o tempo em que naveguei na nau capitânia. Lamentavelmente,
quão grande e infeliz foi a tormenta que separou o comandante e sua consorte,
gerando grandes desatinos e traçando diferentes horizontes em mares mais que
tenebrosos. Antes da separação, tínhamos o mesmo norte, navegávamos destemidos,
rumo a uma mesma direção. Hoje, os antigos consortes, já idosos, sofrem sob o
peso dos mais de 80 anos aumentados com a dor da saudade decorrente da falta do
convívio que durou 57 anos. A falta do perdão recíproco sinaliza o fracasso
para a reconciliação. Na atual conjuntura, os comandantes encontram-se
acometidos por doenças adquiridas com o fim do enlace matrimonial, pois
enquanto estavam juntos se fortaleciam mutuamente e nutriam a felicidade da
tripulação inteira. Com o leme divido, a tripulação ficou à deriva. Levado por
violentas marés, o barco encalhou, por duas vezes, na areia do vale da morte,
resultando na perda de duas de suas guerreiras que compunham e defendiam a tripulação.
O natal não foi como antes. Sob a tempestade, e a revelia das perigosas ondas,
nesta noite de natal, apenas a figura de um triste capitão, acompanhado apenas
de seus filhos: Gledson, Antonio (escritor do diário da nau) e Lucilene (esposa
de Antonio, incorporada à nau capitânea). É com grande prazer que desejo um
feliz natal pra todos os forquilhenses, em especial aos filhos dos nossos
antigos vizinhos e seus filhos, os quais tiveram seus barcos abalados pelas
grandes ondas do tempo. Alguns desses comandantes conseguiram viver a ventura
da promessa que fizeram no altar, perante o qual, prometeram navegar movidos
pela união, até que a morte os separasse. Forquilha/Ce, 25 de dezembro de 2013.
Antonio Lopes de Araújo Advogado militante no Direito Civil, Tributário, Previdenciário
e Advogado-Dativo do Juizado Especial Criminal da Comarca de Nova Iguaçu do
Estado do Rio de Janeiro. Estas e outras no diário de notícia do pesquisador da Pré-história Célio Cavalcante membro correspondente da ACEJI e do Jornal Circular da cidade de Sobral-Ceará.
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