Sempre que aciono as asas da imaginação deparo-me com fatos passados que ainda hoje são relembrados pelos que deles participaram ou testemunharam. O radioamadorismo, em décadas passadas, era uma benéfica atividade empreendida em Crateús e em outras cidades, tendo em vista que, naquele tempo, como meio de comunicação, contávamos apenas com o aparelho Morse da RFFSA ou o serviço telegráfico dos Correios. A história de Crateús registra que o primeiro rádio amador que se instalou por aqui foi João de Deus Sales, com um equipamento na sua residência situada na Rua Firmino Rosa, no Quadro da Matriz. Na década de 1960 outros adeptos deste serviço de comunicação se organizaram e formaram uma diretoria constituída pelo então sargento do Exército Manoel Ferreira dos Anjos, do 4° BEC, o comerciante João de Deus Sales, os bancários Janser Rangel, Valdemir Rosa Chaves e Djacir Soares, o médico Olavo Cardoso e ainda o então tenente do Exército José Airton Feijão. Eram incalculáveis e relevantes os serviços prestados por estes comunicadores, naquela época em que as distâncias eram quase que inatingíveis e quando ainda engatinhava, nas grandes cidades, o serviço de telefonia. Na década de 1970 conheci os radioamadores Domingos Alonso Álvares, Sandoval Mota e Carlos Chaves Rego, os dois últimos fazendo uma completa intermediação entre Crateús e a cidade de Lavras da Mangabeira. Um pavoroso acidente ocorrido em 1974, numa ponte daquela cidade, envolvia um ônibus que transportava quase 50 crateuenses, funcionários ou pessoas ligadas ao 4° BEC, proveniente de Barreiras, na Bahia, para votarem em Crateús, onde detinham seus domicílios eleitorais. Muitas vezes os radioamadores precisaram fazer pontes para que a comunicação e as notícias chegassem, com segurança, aos interessados. Familiares dos acidentados se deslocaram para aquela cidade em socorro às vítimas que estavam hospitalizadas. Mesmo assim um dos mortos (Joaquim Marques de Sousa), cuja família ficou em Barreiras, foi sepultado sem que seus familiares tomassem conhecimento. Na década de 1980, em Crateús, houve uma seleção para escolha de novos radioamadores, ocasião em que ingressaram Joseleno Freire, Flávio Machado, Neto Gonçalves, Francisco Soares Melo (Melinho), Egber Torres Martins e João Onofre de Sousa. A sede da LABRE situava-se na travessa Santo Antônio, nos fundos do 7º BPM. Este prédio atualmente pertence à entidade e está cedido, temporariamente, a uma instituição denominada Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Havia grande ligação entre os radioamadores em quase todo o Nordeste do Brasil, na década de 1980. As ondas sonoras eram favoráveis e nos comunicávamos com muitos conterrâneos residentes em outros Estados. Havia encontros diários, em hora prevista, ocasião em que se formava a rodada da amizade, coordenada pelo que primeiro chegasse e, pouco a pouco, outros se apresentavam e, nos minutos seguintes, muitos estavam participando do encontro. Ainda hoje, em Crateús, alguns radioamadores ainda conservam equipamentos instalados em casa, apenas, para entretenimento. Esta coluna tem o patrocínio da família de João Crisóstomo de Azevedo (in memória). Fonte: Jornalista Flávio Machado do periódico Gazeta do Centro Oeste.
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