domingo, 29 de novembro de 2009

MULTIPLICAMOS AS NOTÍCIAS DA DRA. MARIA BELTRÃO COM SEU TÍTULO “POR TRÁS DOS MUROS”

A decisão do governo do Estado do Rio de Janeiro de construir muros de concreto para prevenir a expansão de favelas na cidade tem provocado polêmica nos diversos seguimentos sociais nos últimos meses. Embora ache legítima a tentativa do Estado de proteger o que ainda resta da nossa Mata Atlântica e de frear o crescimento desordenado de construções ilegais, não vejo eficácia nas cercas de um modo geral. Há mais de 20 anos que os muros ganham os espaços públicos e privados em nossa cidade. O que inicialmente parecia uma medida preventiva, hoje já é uma reação compulsória à falta de segurança. Como arqueóloga brasileira, percebi há muito tempo que não era possível cercar os sítios arqueológicos, na esperança de protegê-los. No Brasil, aliás, as cercas não resolvem os problemas de depredações e pichações em relação ao patrimônio público. Desde 1982 – como coordenadora e orientadora científica das pesquisas desenvolvidas no Setor de Arqueologia do Museu Nacional, UFRJ – desenvolvo pesquisas arqueológicas no interior do estado da Bahia, na área denominada Região Arqueológica de Central, que engloba vários municípios (da Chapada Diamantina ao oeste). Esses trabalhos são desenvolvidos principalmente na planície calcária (24.000 km quadrados) onde se situam vários municípios, inclusive o de Central, por conta da enorme riqueza arqueológica do local. Em razão do crescimento da população na região, encontramos, a partir de 1992, as primeiras pichações nos sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Cinco anos depois, em 1997, as pichações atingiram um grau elevado. Para interromper o processo de destruição, experimentamos vários métodos. No entanto, o único, realmente, eficaz foi o caminho da divulgação científica. Ano após ano, investimos na educação e conscientização da população local, tendo como foco as escolas. São os professores e as crianças que fazem toda a diferença, modificando, inclusive, o comportamento dos pais em casa. Outro passo importante é a parceria com o governo do Estado e as Prefeituras próximas aos sítios arqueológicos. Os resultados chegam mais rápido. O interesse da população pelo tema estimulou a criação do Museu Arqueológico de Central, uma iniciativa que contribui para o desenvolvimento socioeconômico de um dos municípios mais carentes da região. Ao mesmo tempo o Museu tem desempenhado importante papel na reversão, em grande parte, do processo da destruição provocada pelo homem. Recentemente, conversando com o Secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, percebi com felicidade que existe um projeto de ampliar o trabalho de educação e de preservação arqueológica e ambiental no Estado. Com o objetivo de democratizar a cultura, preservar a diversidade e descentralizar as ações culturais para o interior, Meirelles abre portas e janelas para um mundo melhor, mais consciente e, realmente, empenhado em lidar com questões ambientais. Em tempo: não sou a favor de muros, mas de ambientes mais arejados. O melhor ambiente é aquele que consegue acolher o Homem também. E quanto mais consciente e educado, mais respeito ele terá com o seu entorno. Por Maria Beltrão – arqueóloga e Doutora em Geologia.

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