JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE - Sobral. Durante as obras do Projeto Sobral Novo Centro, uma equipe de arqueólogos tem acompanhado a execução e encontrado artefatos que mostram mais sobre o passado da cidade. Os mais comuns são fragmentos de porcelanas e louças, porém, também já foram encontradas moedas, peças de roupas e utensílios domésticos.
Na medida em que vão sendo feitas as escavações, arqueólogos acompanham os operários. Se um artefato é achado, o trabalho é transferido para outro trecho, para que a pesquisa seja feita com mais profundidade FOTO: JÉSSYCA RODRIGUES
Segundo a equipe responsável, com os achados, será possível uma maior documentação histórica da cidade, tanto cultural como topograficamente. O supervisor dos trabalhos, o arqueólogo Agnelo Queiros, explica que esse acompanhamento é feito devido à regulamentação legal, em que as grandes obras devem ser acompanhadas de uma equipe especializada. "Nessa situação, estamos aplicando a arqueologia preventiva, para diminuir o impacto arqueológico e cultural", esclareceu. De acordo com ele, à medida que vão sendo feitas as escavações, a equipe arqueológica faz o acompanhamento. Se forem encontrados indícios de uma maior concentração, as obras serão transferidas para outro trecho que já tenha sido supervisionado, enquanto os arqueólogos trabalham no local. O supervisor diz que o maior volume encontrado até o momento é de fragmentos, principalmente, beiradas de louças, além de utensílios domésticos, roupas e um relevante número de cachimbos. "O primeiro trecho da obra, que foi da Rua Padre Fialho à Rua Doutor Monte e Praça da Várzea, possuía diversos materiais móveis muito grandes contendo restos de louças e metais. Algumas coisas estão bem preservadas, mas a maioria é fragmentada", disse. Ladeiras O solo urbano é feito basicamente de aterros, conforme diz o arqueólogo, pois há uma tentativa de nivelar as ruas da cidade. Entretanto, nunca se consegue deixar as áreas completamente planas. É no final de onde existiam ladeiras que pode ser encontrado a maior quantidade de peças. "Em alguns pontos, achamos aterros com dois metros de profundidade", completa. Hoje, a melhor peça para se datar são as louças, que também são chamadas de faianças, já que possuem uma época de fabricação e de comercialização, de acordo com o pesquisador. As faianças encontradas em Sobral são, a maior parte, inglesas e chinesas. "Já temos a pesquisa para saber quando essas louças começaram a ser produzidas, quando foram comercializadas e quando terminou o período de produção" diz. A participação da população, principalmente, dos mais velhos, também tem sido importante para a localização das peças dentro do contexto histórico da cidade, conforme explica o arqueólogo. "Os cidadãos mais antigos, às vezes, se reúnem em torno dos nossos achados e comentam sobre eles. Encontramos, certa vez, um conjunto de frascos usados para manipulação de remédios antigamente, e um senhor explicou que, numa rua próxima, havia uma farmácia. Outro ponto interessante é a reconstrução arquitetônica do local. Às vezes, eles chegam e falam que em tal lugar havia tal coisa. Quando escavamos, encontramos indícios de que realmente esteve ali o que o cidadão relatou", destaca. Hipótese Segundo ele, existem indícios de que esses locais poderiam ter sido lixões das famílias de antigamente. Porém, é apenas uma hipótese em avaliação. Agnelo afirma que a resposta definitiva só poderá ser dada após a conclusão dos estudos. "Esse material pode ser o lixo de famílias que moraram há séculos aqui, assim como um dia nosso lixo vai ser estudado para saberem o que vestíamos e usávamos. Após a conclusão da obra, a equipe continuará trabalhando em um local específico para estudar, identificar e catalogar esses achados". Para Agnelo, o trabalho arqueológico que está sendo feito irá contribuir para diversos campos de estudo sobre a cidade. "Nós teremos um conhecimento melhor de como era a cultura, as ruas, o que as pessoas vestiam e comiam. Sobral teve destaque na época da criação do gado, o que refletiu na economia da cidade. Havia uma certa independência de Fortaleza, pois, o que era consumido na cidade, vinha diretamente do porto de Camocim através do Rio Acaraú, importado da Europa. Vinha de tudo, desde os utensílios doméstico às vestimentas" conclui. O projeto Sobral Novo Centro tornará subterrâneas as redes elétricas, de Internet e de telefonia na área do Centro Histórico de Sobral. Abrange uma área de 27 hectares na área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo o representante do Iphan no Município de Sobral, Alexandre Veras, as obras estão 23% concluídas.Prazo de conclusão - A arquiteta da Secretaria de Cultura de Sobral, Marcely Barreira, disse que o projeto abrange, além da internalização da fiação, também a padronização de calçadas com adaptações para a acessibilidade de deficientes, a implantação de postes de iluminação escolhidos pelo Iphan e pavimentação em paralelepípedo de alguns trechos do projeto. O prazo de conclusão das obras está previsto para o segundo semestre do próximo ano.
JÉSSYCA RODRIGUESREPÓRTER
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