Faleceu, no último sábado 19 de julho de 2014, em Fortaleza,
um dos engenheiros mais representativos da vitoriosa história do Departamento
Nacional de Obras contra as Secas – DNOCS. Trata-se de Anastácio Honório
Maia, o construtor do Açude Orós no início da década de 60. Esta imensa
barragem é, sem dúvida, uma das obras da maior importância estratégica e
econômica realizada pelo DNOCS nos seus 105 anos de existência. Na época,
quando inicialmente foi projetada, era considerada como sendo uma das maiores
barragens do mundo com quatro bilhões de metros cúbicos de água. Quem
conhece o real drama das secas no Nordeste e no Ceará, em particular,
compreende de imediato a importância estratégica desta represa, encravada
em pleno coração da região mais seca do Estado do Ceará. Os primeiros estudos
para construção do Açude Orós data de 1912 e, em 10 de outubro daquele ano, um
grande incêndio nos escritórios do DNOCS, em Fortaleza, destruiu seu primeiro
projeto e respectivos estudos. Em 1958, um ano das mais aterradoras secas na
região nordestina, aproveitando a mão de obra dos flagelados, iniciou-se o
preparo das fundações para a construção da grande obra, de sorte que as chuvas
já as encontrassem prontas no início de 1959. À frente da equipe estava o Eng.º
Anastácio Maia. Nascia, assim, mais uma comunidade no Estado do Ceará: o
município de Orós. Após o inverno de 1959, que foi regular no vale do Rio
Jaguaribe, o rio foi finalmente fechado. Chegou 1960 e, como sempre, a situação
era de expectativa. Será seca? Desde 1950 o Nordeste atravessava um dos
períodos mais secos de sua história. As águas do inverno de 1960 começaram a
impor receios ainda nos primeiros dias de janeiro, face o imprevisível. Chuvas
em todo o interior do Estado. Verdadeira massa humana a revezar-se com as
máquinas, objetivando elevar mais alguns centímetros a barragem, a fim de
aumentar sua capacidade e represar milhões de metros cúbicos de água ameaçadora
que chegava. Homens, meninos de todas as idades entre a passagem de duas
máquinas, de pá, picareta, enxada ou mesmo com as mãos trabalhavam
incessantemente. No Posto Fluviométrico do DNOCS (instalado em 1911, provavelmente
o primeiro da América do Sul), localizado em Iguatu, dizia da elevação sempre
crescente do nível do rio. Exatamente aos 17 minutos do dia 26 de janeiro
começou a ocorrer o transbordamento. O reservatório continuava enchendo e,
cerca de 30 minutos após, ouviu-se um estrondo tal qual gigantesca cachoeira. A
água transbordava pelo meio da barragem e, logo em seguida, em toda a extensão
dos seus 600 metros .
Não houve o terrível rompimento da barragem. A erosão processou-se
relativamente lenta no meio da barragem de terra. Estava praticamente definida
a situação. Restavam 2/3 do maciço. Viu-se, então, a solidez da obra. O Orós
comportou-se de maneira inédita. Uma vitória da engenharia do DNOCS. Os
Técnicos daquele Departamento tendo à frente o Engº Anastácio Maia e outros do
mesmo gabarito técnico/profissional, já estavam com planos de construir, de
imediato, os açudes Banabuiú, Castanheiro, no Rio Salgado, em Lavras da
Mangabeira, e de Boa Esperança no Estado do Piauí, as maiores obras programadas
após a conclusão do Orós. Matéria redigida pelo Ex-diretor do DNOCS Dr. Cássio
Borges Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica de Pernambuco, com
cursos de especialização em Hidrologia e recursos hídricos, pela Escola
Nacional de Engenharia e Pontifícia Universidade Católica-PUC, ambas do
Rio de Janeiro. É Membro Honorário da ACLJ.
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